|
|
|||||
|
Bons garotos vão pro céu, motociclistas vão para qualquer lugar…
|
|||||
"Confraria Overbikers - Rumo ao
Chile 2004"
A viagem ao Chile
começou a ser planejada no nosso encontro de Florianópolis em dezembro de
2003, quando Julio “Baixinho” Paulino e eu, Gerson “Fubá” Fioravante Notário,
passamos 4 dias desfrutando das belezas da ilha. Tivémos a idéia de fazer
o primeiro encontro internacional e como a Confraria Overbikers é formada por
apenas dois integrantes, a votação transcorreu na mais absoluta ordem. Decidimos sair em Julho
para podermos ver neve, embora sabíamos que se errássemos o plano, poderíamos
ficar presos lá com as motos. O Baixinho monitorou o tempo (http://br.weather.com/index.html)
e decidimos sair de São Leopoldo no dia 07 de julho. O Baixinho sai de Santo
André-SP no dia 05 de madrugada e chegou em São Leopoldo-RS às 19:30 do mesmo
dia. Durante o dia 06 tínhamos alguns preparativos por terminar e o plano era
sair bem cedo no dia seguinte. O mais importante na verdade era a chegada dos
documentos da minha moto, que havíam sido enviados pelo DETRAN e sem eles a
viagem teria que esperar. Às 18:00h do dia 06
localizamos os documentos na agência central do Correio em São Leopoldo, que
alívio. Na manhã do dia 07, passamos no Correio, peguei meus documentos e às
11:00h começamos nossa aventura, com duas BMW R 1100 RT ano 97, Baixinho/Azul
e Fubá/Vermelha. Partindo de São
Leopoldo, chegamos à Vila Nova do Sul para abastecimento, um almoço rápido e
seguimos viagem. Passamos então por Alegrete sem parar e fomos adiante. Dica muito importante,
se você for viajar com uma moto, que tem autonomia aproximada de 340 km e
abastecer em Vila Nova do Sul, não esqueça, pare em Alegrete e abasteça
novamente, pois não há outro posto até Uruguaiana. Quando paramos no posto
já em Uruguaiana, nossas motos marcavam 335,7 km e a minha apagou ao encostar
na bomba. O tanque tem capacidade para 26 litros e na minha foram colocados
25,8 litros. A do Baixinho estava um pouco mais econômica e couberam apenas
24 litros. A segunda parada foi em
Uruguaiana, já caia a noite e decidimos cruzar a fronteira no dia seguinte
pela manhã. Paramos no Hotel Elyt por R$ 60,00 o apartamento duplo. O camarada da recepção
do hotel fez o maior terrorismo ao saber que iríamos para a Argentina. Disse
pra não entregar documentos na mão da Policía Caminera (Polícia Rodoviária)
que eles iriam roubar nossas motos e outras histórias de arrepiar os cabelos. Liguei então para o meu
amigo John “Boy” Andara, que me tranquilizou um pouco, mas foi enfático em
dizer que os caras eram jogo duro. Na fronteira tudo correu
bem, apesar da demora em fazer câmbio, pois a Casa de Câmbio abre apenas as
7:00h. Moeda trocada, tanque cheio, entramos na Argentina. A Policía Caminera
“gentilmente” nos parou para apreciar nossas motos. Papo vai, papo vem, nos
deixaram passar sem pedir nada. Andamos nossos primeiros
40 km na Argentina, até o Baixinho olhar para o GPS e perceber que estávamos
no caminho errado. Pegamos a Ruta 123 ao invés da Ruta 14. Voltamos
rapidamente e seguimos até Concordia para abastecer. O frio estava muito
intenso e pelo que soubemos depois, fazia cerca de –1°C no início da manhã. As estradas na Argentina
foram a primeira coisa à causar boa impressão, um tapete e muito bem sinalizadas.
A segunda foi a gasolina, cheguei a estranhar a falta do cheiro de metanol. A
terceira foi o preço da gasolina que na média, não custou mais que R$ 1,80. Policía Caminera de novo.
Paramos o cara deu uma voltinha em torno das motos e deve ter pensado que ia
nos pegar e foi dizendo ‘Mata-fuego?’. Apesar do código de trânsito argentino
não exigir o “mata-fuego”, nosso conhecido extintor de incêndio, os camaradas
se valem do tal, para te colocar numa fria. Mas ele se deu mal, pois
prontamente eu e o Baixinho sacamos nossos mata-fuego. Acho que ele deve ter
pensado, que para caras tão bem preparados, não valeria a pena pedir mais
nada e nos deixou ir embora. Passamos por San Salvador
(capital do arroz, segundo o frentista do posto), Parana e cruzamos o túnel
sob o rio de mesmo nome. Em San Tomé, pouco antes de Santa Fé paramos para um
lanche rápido. Lá encontramos um camarada que nos deu excelente referência da
Villa Carlos Paz (www.welcomeargentina.com/villacarlospaz),
lugar “muy hermoso” e com hóteis bons e baratos. Novo abastecimento em
Santiago Temple e passamos por Cordoba já ao cair da noite. Após 36 km
chegavámos a Villa Carlos Paz, lugar realmente muito bonito, limpo e
organizado. Nos hospedamos no Capvio
(www.capvio.com) , hotel familiar, muito
aconchegante, com calefação, bom café da manhã por apenas R$ 69,00 o apartamento
duplo. O dono é fanático por carros de corrida e o lugar é todo decorado com
partes de carros, desde pequenos pistões até pneus de fórmula 1. Saímos para jantar e
encaramos uma parilla, vendo o Brasil ganhar de 1 x 0 do Chile. Outra boa
impressão foi a carne argentina, muito macia e saborosa. Saindo de Carlos Paz na
manhã do dia 09, seguimos a caminho de Mina Clavero. Esta região é muito
montanhosa, ventava muito naquele dia e era difícil manter as motos na
vertical. Fazendo algumas
ultrapassagens, percebemos que os motores não estavam respondendo muito bem.
Parando para tirar umas fotos, concluímos que o problema era o oxigênio em
menor quantidade que afetava a queima do combustível. Estávamos a 2.400
metros de altitude e até para respirar estava difícil. Paramos para abastecer
em um vilarejo chamado Nono e a idéia era seguir pela Ruta 20 e depois pela
146 até São Luis, porém nos informaram que indo por Quines e até Encón pela
Ruta 20 seria mais rápido. Maledeto! Aposto que
nunca andou de moto o infeliz. A estrada é boa, mas o problema é que não tem
posto de gasolina de Quines a Encón. Além disso, a região é desértica e
andamos por mais de 100 km com as motos inclinadas no meio de uma tempestade
de areia com direito a redemoínhos cruzando a estrada. Só o que podíamos ver
eram casebres abandonados, urubus e esqueletos de vaca nas margens da
estrada. O lado positivo é que,
sem nenhuma alma viva na estrada, pudémos tirar um “pega” a mais de 200 km
por hora. Chegamos a Encón, um
pequeno vilarejo que serve como posto de abastecimento para quem se aventura
por aquela estrada, o lugar foi fundado pelo ACA – Automóvil Club Argentino. Cento e cinquenta
quilômetros depois chegamos à Mendoza e tratamos logo de encontrar em lugar
para dormir. Com umas dicas de uma camarada do posto YPF, achamos o Hotel
Marconi, bem próximo do centro de Mendoza. Pudemos nos hospedar por R$ 75,00,
com um bom café da manhã. Andando a pé fomos
conhecer o centro e achar um lugar para jantar. Os interesses estavam um
pouco conflitantes e andamos diversas vezes pelos mesmos lugares até decidir
por uma boa garrafa de vinho. Com uma garrafa de
Cabernet Sauvignon Santa Isabel, uma tábua de frios e uma garçonete “muy
hermosa”, pudemos curtir um pouco das delícias de Mendoza. Fomos então ao Las
Heras, excelente opção de restaurante, para jantar. Mais uma, (ou foram
duas?) garrafas de vinho e fomos ao berço. Ruta 7, este foi o
caminho na manhã do dia 10 de julho. Eu nunca havia visto neve na minha vida
e após uma hora pilotando fiquei maravilhado ao ver as Cordilheiras dos Andes
cobertas de gelo, lá longe. Era a realização de um sonho, coração bate
diferente, a respiração muda, uma adrenalina invade o corpo. Estávamos
próximos de atingir um objetivo planejado por 7 meses. Parada em Uspallata para
reabastecimento e, pé na estrada. Subir as Cordilheiras dos Andes de moto é
uma experiência única na vida. Vales entre as montanhas formados há milhões
de anos, durante o final da era gracial, formam uma paisagem inesquecível. A cada quilômetro a
paisagem ficava mais e mais branca e a ansiedade de chegar à Portillo
aumentava. Atingímos mais de 3 mil
metros de altitude, o oxigênio é rarefeito e andar alguns metros equivale a
um grande esforço físico. A pressão aumenta um pouco, sentimos um certo
desconforto. As motos também estavam com a potência sensivelmente alterada. Tunel Cristo Redentor,
mais de 3.100 metros sob a Cordilheira, do outro lado o posto de fronteira
Argentina/Chile, passaportes carimbados, câmbio de moedas e chegamos ao
CHILE!!!!! Neve por todo lado, o
frio desapareceu com a satisfação de estar lá, a gente parececia duas
crianças quando ganha um doce. Vinte quilômetros após a
fronteira está Portillo (www.skiportillo.com) , um lugar de
cair o queixo. O plano era ficar no hotel da estação de esqui, mas estava
todo lotado. Se for ao Chile hospede-se lá, vale a pena. Descemos “los caracóles”
até uma vila chamada Guardia Vieja, próximos a Los Andes, onde encontramos
uma pousada com um restaurante razoável e apartamentos muito ruins, além dos
preços mais caros durante toda a viagem. Não ficaríamos lá
novamente, mas já era tarde e estava na hora de comemorar, ‘Garçon, uma
cerveja!’. A festa estava boa e os
garçons muito atenciosos. Começou o jogo México e Argentina. O México fez um
gol e o Baixinho, já meio “de trago”, decidiu compartilhar a alegria com os
chilenos. Dirigiu-se ao dono do
estabelecimento e perguntou por que o juiz anulou a cobrança do penalti em
que o Chile poderia ter empatado com o Brasil dois dias antes. Pra quem não
viu o jogo, o penalti foi marcado, cobrado, aproveitado e anulado. Na nova
cobrança o chileno chutou para fora. Após um olhar que o
percorreu dos pés a cabeça, o gentil hóspede poupousse a responder ‘Para que
o Brasil pudesse ganhar.’, desdenho que o Baixinho classificou como pura
inveja. Com uma ligeira ressaca
e um frio do cão, acordamos cedo no dia 11. A água fria do misturador do
chuveiro vinha em pouca quantidade, acho que estava congelada. A fronteira abre as
8:30h horário local (1 hora a menos que o nosso) então não adianta madrugar.
Passamos sem parar por Portillo e cruzamos a fronteira. No sentido
Argentina/Chile a apresentação dos documentos se faz do lado do Chile e na volta
a parada se faz na Argentina. Motos desligadas,
documentos apresentamos aos dois policiais presentes e um deles pergunta ao
Baixinho, ‘A que velocidade viajam com as motos?’. Mera curiosidade, a qual o
Baixinho prontamente satisfaz dizendo ‘A que a lei permite, senhor!’. Louco
pra levar uma multa ou coisa pior. Ao lado, um argentino
que assistia a cena, puxou assunto dizendo que também tinha moto, uma Honda
900 RR, e que os encontros na Argentina são muito bons. O Baixinho ataca
novamente dizendo ‘Amigo quanto terminou o jogo Argentina x México?’. O
argentino, muito educado, respondeu ‘México 1 x Argentina 0, uma lástima!’ e
o debochado Baixinho diz ‘Que pena!’, sob os ferozes olhares dos hermanos. Sobrevivemos e fomos
adiante. Muitas fotos, que nos atrasaram bastante, uma parada para abastecer
em Uspallata e nova parada em Mendoza para as compras e um lanche no
Carrefour. As motos fumam um pouco na estrada e aproveitamos para completar o
óleo no posto da Petrobras. Chegamos a São Luis no
final da tarde e a idéia era irmos até Rio Cuarto, mas confrariamente optamos
em por ficar lá. Uma boa escolha afinal.
Ficamos no Hotel Aiello, muito agradável e por apenas R$ 70,00. O jantar foi
no Restaurante Plazoleta (do outro lado da rua) onde experimentamos 3 garafas
de vinho, um melhor que o outro, e um ótimo filé. No dia 12 passamos por
Vila Mercedes, Rio Cuarto, Vila María, San Francisco, Santa Fé e finalmente
Parana. O dia rendeu e o Gran Hotel Parana foi a melhor opção durante toda a
viagem (http://parana.idoneos.com/index.php/260748
). Um massa com camarão de tirar o chapéu e um serviço de excelente
qualidade. Vale a pena conferir. Saímos de Parana cedo,
em direção a Vila Federal. A Policía Caminera ataca novamente. Dois policiais
nos pararam e pediram para írmos ao acostamento. Olharam as motos por um
minuto e começaram a pedir. Mostramos documento da
moto, carteira de habilitação, seguro carta verde, o velho mata-fuego, a
corda, até que não tinham mais o que pedir. O camarada já meio indignado,
deve ter pensado que ia nos pegar e pediu o estojo de primeiros socorros. Sem
hesitar, sacamos nossos estojos e a autoridade enloqueceu. Pensou um pouco e
começou a espiar meu estojo, quando declarou a sentença, ‘No tienes mercúrio,
señor!’. Pensei com meus botões e
concluí que não iria perder pro hermano. Disse a ele que tinha “algo mejor”.
Saquei o mertiolate com anestésico e comecei a propaganda, dizendo que era um
produto mais moderno, tirava o dor, era antiséptico e, o melhor, não deixava
manchas. Só restou ao “caminero”
concordar e pedir uns adesivos da Confraria. Tirei uma foto deles junto com o
Baixinho e fomos embora. Em Uruguaiana iríamos
nos separar. O plano do Baixinho era subir pela serra para São Paulo, o que
eu já havia desaconselhado. Alguns caminhoneiros de um posto atestaram meu
conselho e disseram que seria melhor ir até Porto Alegre ou mesmo entrar em
Alegrete rumo a Santa Maria. Em Alegrete a Confraria
Overbikers se dispersou já com planos para a próxima viagem, Natal/RN. Andei sozinho por mais
690 Km e cheguei em São Leopoldo no dia 13 às 19:00h. O Baixinho rodou mais
1.600 e chegou em Santo André-SP às 14:30h do dia seguinte. Alguns dados da viagem: Fubá 4.924,00 km 343,09 Litros R$ 679,00 (combustível) Baixinho 7.286 km 481,38 Litros R$ 993,69 (combustível) Um grande abraço da
Confraria! Sites Interessantes: www.vialidad.gov.ar/pagina_legislacion_de_transito.htm Dicas: Equipamentos
Recomendados
Manopla aquecida Farol de milha ou neblina Lanterna de mão ou de cabeça Mala de tanque é extremamente útil GPS No caso de uso do GPS é recomendável a instalação de cabos
de alimentação direto da bateria da moto. Manta aluminizada (protege do frio e do calor ou
insolação, em casos extremos) Conector de saída de 12v para carregar celular, e outros
equipamentos portáteis Vestimenta Ande sempre com roupas próprias para viagens de moto com
os protetores apropriados. Use: Jaqueta Calça Luvas Botas (de preferência impermeáveis) Óculos escuros (tenha se possível um par de óculos para a
noite, chuva e neblina – lentes amarelas) Leve sempre capa de chuva, pois mesmo com roupas impermeáveis é aconselhado o uso destas em longos
períodos de chuva (por vezes horas ou
dias!), que podem ocorrer em qualquer viagem. Em caso de frio extremo as capas ajudam muito também. Cinta abdominal (kidney belt) – altamente recomendável Protetor de coluna (se a jaqueta não tiver) Na bagagem leve o mínimo de roupas para no máximo sete
dias de viagem (lave as roupas nos dias parados nas lavanderias dos hotéis ou
particulares) É recomendado usar camiseta de mangas compridas por baixo
da jaqueta. Na moto a temperatura varia muito, principalmente ao
anoitecer, em grandes altitudes ou sob chuva. Leve sempre: Forro do casaco e calça Luvas quentes e impermeáveis “under gloves” de seda ou tecido sintético Colete elétrico – recomendável Meias grossas e de cano alto Leve conectores multi-sistema para os aparelhos elétricos
(barbeadores, secadores de cabelo etc) Sandálias Havaianas ou equivalente Bandanas ou lenços Protetor de pescoço (de lã ou “fleece”) Medicamentos: Além dos medicamentos pessoais levar um analgésico-antiinflamatório
tipo Celebra e algum anti diarréico. É improvável que se sinta o “mal das alturas” em cima das
motos. Tenha sempre à mão protetor solar e bloqueador solar,
principalmente para o rosto, lábios, nuca e mãos. Documentos
Pessoais Para viagens na América do Sul, a carta de habilitação
brasileira é válida. Idem para a Carteira de Identidade também, porém o
passaporte agiliza os trâmites nas fronteiras Não são exigidos atestados de vacina Importante: Leve sempre os documentos originais. Documentos
das motos Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo
original (fotocópia do Detran não vale). Para as motos com alienação é necessário uma autorização
do agente financeiro com firma reconhecida para o veículo deixar o país. Seguro Carta Verde (Certificado de Apólice Única de
Responsabilidade Civil do Proprietário ou Condutor válido para os paises do
mercosul). Na Argentina é exigido o porte de extintor de incêndio
também nas motos que pode ser levado em qualquer lugar da bagagem (pode ser
aqueles de carro de 1 kg) Se a moto não for de sua propriedade é necessária uma autorização, original, com firma reconhecida, do dono da moto para uso da mesma, com o fim específico da viagem. |