Expedição Patagônia Invernal 2005
Confraria em Las Leñas
Na esteira do sucesso da viagem ao Chile no ano passado, 
nós organizamos outra expedição aos Andes em pleno inverno. 
Só que desta vez o inverno estava inverno!!! Leiam como foi.

Em 2004 emplacamos com sucesso uma expedição ao Chile; atravessamos os Andes pelo Túnel Cristo Redentor e fomos parar no país com melhores índices de desenvolvimento na América Latina. Mas esse ano o inverno tem se mostrado muito mais severo e quando saímos para a nova expedição, já sabíamos que a fronteira estava fechada devido à fortes nevascas e já se enfileiravam mais de dois mil caminhões  aguardando a liberação da passagem. Mas o nome do jogo é moto”aventura” então nós fomos assim mesmo, sabendo que o nosso destino teria que ser ainda em solo argentino, sendo que elegemos Las Leñas, onde ainda poderíamos exercitar as nossas habilidades no esqui (snowboard no meu caso). O primeiro dia de viagem foi tranqüilo, saímos de Santo André na quinta-feira, dia 23 de Junho, e fomos dormir em Passo Fundo-RS depois de exatos mil quilômetros de viagem. A segunda etapa nos reservou duas surpresas, uma pequena que foi a pane seca do meu companheiro de viagem, que ficou sem combustível a meros 16km do posto em Uruguaiana, e uma grande surpresa que foi o fato desse mesmo companheiro ter esquecido o RG original e portanto, ter sido impedido de entrar na Argentina. Cinematográfica foi a solução encontrada, que mobilizou um amigo para arrombar a casa do sujeito e localizar o RG, outro amigo que viajou até Porto Alegre de avião e outro amigo confrário que arrumou um serviço de remessa na rodoviária de São Leopoldo que nos entregou o documento na rodoviária de Uruguaiana (onde não existe Sedex 10). O resultado dessa mega operação foi um atraso de apenas um dia e meio na viagem, pois no domingo conseguimos atravessar a fronteira e seguir pro nosso destino.

 

Uruguaiana se encontrava com sérios problemas devido às fortes chuvas de alguns dias atrás e as partes baixas das cidade, que fica à beira do Rio Uruguai, estavam ainda alagadas.

Na terceira etapa da nossa viagem, passamos pelo túnel por baixo do Rio Paraná que une as cidades de Paraná e Santa Fé, na Argentina, e após os ajustes devido ao descanso forçado do dia anterior, terminamos esse trecho de 916km em San Luis, onde nos hospedamos no ótimo hotel Aiello, e fizemos nossa refeição na Plazoleta, um restaurante em frente ao hotel e que, além de servir uma ótima carne, tem uma seleção de vinhos locais e da província de Mendoza, que desde ano passado se tornou referência em nossas viagens; o Merlot de Santa Julia é um vinho com muito a dizer, e é facilmente encontrado no Brasil também. A viagem de segunda-feira foi bem curta, pois fomos apenas até Mendoza que dista menos de 500km de San Luis, mas interrompemos esse trecho lá, pois no Shopping de Mendoza, acessamos a Internet e descobrimos que a passagem para o Chile estava fechada e mesmo quando abrisse, os carros que fossem passar necessitariam de correntes nas rodas, acessório esse indisponível para motocicletas. Então ficamos por Mendoza, para provar a culinária local e tomarmos um pouco da boa cerveja Cristal da Quilmes; para os fãs incondicionais da cerveja brasileira, a boa notícia é que já se encontra a boa Brahma em diversos locais na Argentina. Em Mendoza ficamos hospedados no Íbis, que tem um preço imbatível, apenas 59 pesos pelo quarto.
No dia seguinte, seguimos viagem para Las Leñas, passando por Tuluyan onde conhecemos o Beto, um brasileiro de Curitibanos que mora lá e adora conversar com seus compatriotas; com ele obtivemos boas dicas de viagem e descobrimos que o povo da província onde ele mora é muito honesto e que a segurança é um dos principais motivos que cativaram esse brasileiro a ficar por lá. Tem que se ressaltar também a ótima qualidade das estradas, que em geral na tem buracos e mesmo as que estão em piores estados de conservação, não nos reservaram nenhuma surpresa, exceto o rio de barro que interrompeu nossa viagem.

Após passar por San Rafael, paramos para abastecer num local chamado El Desvio, onde, próximos a umas poucas casas, havia uma única bomba de combustível, trancada com cadeado, mas após tocar a campainha, conseguíamos um frentista com a chave e, obviamente, que não aceitava cartão e sem troco para o pagamento “con efectivo”. Vale salientar que nossas motocicletas utilizam carburadores e que não fizemos nenhum ajuste especial, como troca de giclê ou regulagem da agulha (que seria indicado), e com a gasolina de 95 actanas, elas funcionaram muito bem, aumentando apenas um pouco mais o consumo, já que a mistura ficava muito rica.

Em El Desvio, fomos informados que estava nevando na subida para Las Leñas e como o frio estava bem forte, resolvemos voltar 50km até San Rafael, onde dormimos no Hotel Tower (o melhor da viagem) para seguir viagem no dia seguinte.

Chegando em El Sosneado há um posto de abastecimento e uma barreira policial que informa as condições da rota até Las Leñas; felizmente no dia em que passamos havia condições de prosseguir viagem e o policial “camiñero” nos advertiu para termos cuidado... não foi suficiente! Oito quilômetros pra frente, o confrário que me acompanhava viu um pequeno riu de barro atravessando a pista, pois estava chovendo, e reduziu a velocidade para passar mas não reduziu o bastante e acabou caindo e danificando a tampa do motor da sua motocicleta que começou a verter o óleo do motor impossibilitando-o de continuar a viagem a apenas 60km de Las Leñas.

Não acreditando que pudesse encontrar alguma resina epóxi no posto que passamos (o que se provou correto na volta) segui viagem montanha acima para conseguir o material para o remendo. Chegando em Los Molles, onde só havia o hotel e uma mercearia que aluga equipamentos de esqui, milagrosamente encontrei uma cola epóxi chamada Polipox que é ótima, foi perfeita e segurou o buraco por mais de mil quilômetros, quando tivemos que refazer parte do remendo para dar um reforço.

Nesse mesmo dia, voltamos a San Rafael e conseguimos uma oficina autorizada da Honda para efetuar os reparos necessários para prosseguir viagem: desentortar o manete do freio e trocar o óleo pois misturamos óleo mineral ao sintético que estávamos utilizando.

Após mais uma noite em San Rafael, iniciamos a nova viagem de volta, parando em Villa Maria para o pernoite, onde ficamos no hotel República, perto da praça central, que tem diversas opções para jantar e quatro fontes luminosas, uma em cada canto da praça.

No dia seguinte, adentramos novamente o Brasil e fomos dormir em São Borja, cidade natal do presidente Getúlio Vargas, que inaugurou recentemente em sua praça central, o novo sepulcro sob uma obra de Oscar Niemeyer. Vale ressaltar que em São Borja também estão enterrados: João Goulart e Leonel Brizola (esse último, nascido em Carazinho).

A próxima etapa da viagem foi bastante curta, e paramos na cidade gaúcha de Vacaria, onde encontramos um terceiro confrário vindo de São Leopoldo e aproveitamos para realizar o Sexto Encontro Nacional da Confraria em Vacaria. O hotel escolhido foi o San Bernardo na beira da BR-116. O motoclube da cidade de Vacaria, estava organizando um reunião de todos os motociclistas regionais para promover o Primeiro Encontro Motociclístico de Vacaria a ser realizado em 22 de Outubro desse ano.

De Vacaria, subimos pela BR-116 até Curitiba, o que se mostrou um erro pois o caminho pela BR-101 seria mais rápido e fácil, apesar de ser 200km mais longo, porém a BR-116 antes de Curitiba é realmente muito ruim e com trânsito muito pesado.

Nossa última parada foi na ensolarada barraca do Alemão na Praia Grande, onde pudemos matar a saudades das porções de peixe frito e outras iguarias que fazem do nosso país, a delícia que ele é.

Para quem gosta de números vale informar que a viagem toda durou 12 dias e que a distância de Las Leñas a Santo André é de 3.300km; o percurso total da nossa viagem foi de 6.917km; o  consumo aproximado de combustível (total por moto) foi de 450 litros sendo que a média de consumo das motocicletas foi de 14,45km/l e a média horária da viagem (somente ida) foi de 82,9km/h

As motocicletas utilizadas foram duas  Honda CBR 1100 XX Super Blackbird anos 97 e 98 e a preparação para a viagem envolveu a colocação de diversos acessórios, alguns desejáveis, outros indispensáveis e um obrigatório que é o extintor de incêndio (mata-fuego); assim como diversos papéis pois, além do RG e carteira de habilitação, são necessários: certificado de registro do veículo, autorização do proprietário do veículo reconhecido em cartório caso o certificado não esteja no nome do condutor, seguro carta verde válido no mercosul.

Acessórios desejáveis são as malas rígidas, que acomodam toda a bagagem, interferem pouco na estabilidade, são realmente à prova d’água e ainda protegem a lateral da moto em caso de queda (como pudemos constatar na prática); outro acessório desejável é o GPS para orientar a viagem e ajudar a programar as paradas e os trechos a viajar e um acessório muito desejável, que utilizamos nas duas expedições à patagônia, é o cruiser control, uma trava para o acelerador, de forma a permitir que se possa soltar o acelerador, ou pelo menos relaxar a mão direita, nos longos e intermináveis trechos de estrada vazia que encontramos; parece supérfluo mas chega a ser surpreendente o quanto é útil. Na lista de acessórios indispensáveis, utilizamos capacetes leves, confortáveis e que tem protetores para impedir a entrada do vento frio; as roupas devem ser impermeáveis e com forros térmicos, assim como as botas e luvas, para as mãos tivemos que utilizar luvas de lã sob as grossas luvas de couro, quem puder contar com aquecedores de manoplas, utilizem pois são de grande ajuda.

Abaixo detalhamos mais a preparação das motocicletas para essa viagem. Como comentário final, podemos dizer que essa viagem é muito prazerosa e segura, tanto pelas estradas bem cuidadas quanto pelos lugares onde passamos e sempre fomos bem recebidos, o gaúcho argentino das cidades menores são educados e receptivos, diferentes daqueles das grandes metrópoles.

Acessórios e preparação das motocicletas: os pneus Metzeler Roadtec proporcionam melhor aderência tanto em piso seco quanto em pista molhada (www.metzeler.com) e segundo o Alemão (www.alemaorodas.com.br) apresentam durabilidade superior a 16mil km; as malas rígidas são da italiana GIVI (www.givi.it), e utilizamos o modelo Monokey E41 de 41 litros para as laterais e o E52 Maxia como top case tudo montado sobre o Wingrack Y158, esse suporte é fabricado especificamente para cada modelo de motocicleta, consulte o seu no site da GIVI; a trava de acelerador é da Throttlemeister (www.throttlemeister.com) fabricada em Milwaukee nos EUA e tenho que confessar, é por demais superior à trava que utilizei em minha BMW no ano passado, seu funcionamento é fácil e preciso, e não tivemos problema nenhum para instalar; quanto ao GPS, qualquer modelo básico de serve, não é preciso ter recurso de mapas,  nós utilizamos o eTrex da Garmin que usado sai por menos de R$400, e adquirimos na Santa Iphigênia o adaptador para alimentá-lo diretamente da bateria da moto, de modo que ele ficou ligado a viagem inteira, o arquivo com os waypoints utilizados está disponível para download; e por último, mas não menos importante, utilizamos uma bolha da GIVI, modelo DH196, maior que a original e que oferece muito mais proteção para o motociclista, cortando quase todo o vento gelado que viria direto no peito. Vale também mencionar que utilizamos óleo sintético no motor pois realizar sete trocas durante a viagem não era desejável e o óleo sintético dura até dez mil quilômetros; nós utilizamos o Castrol R4 5w40 já que iríamos enfrentar baixas temperaturas, infelizmente a Castrol não importa mais esse óleo para o Brasil devido à baixa procura, em seu lugar poderíamos ter utilizado o Motul 5100 que pode ser encontrado a um preço não tão alto.